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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A construção do sonho coletivo é o que nos une e nos move

Fui ontem à noite na posse da diretoria da OAB-Pará, no Hangar, diretoria que tem à frente Jarbas Vasconcelos, companheiro que conheci no movimento estudantil, quando ambos enfrentávamos a ditadura militar, lutávamos por liberdade, por democracia, pelo direito de respirar e de ser feliz.
Algo nos movia e nos unia: a vontade de mudar aquela realidade opressora, criar um mundo justo, com oportunidades para todos. Em que direitos humanos fossem considerados e gente fosse tratada como gente e não como coisa.
Aquele sonho coletivo nos moveu no final da década de 70. E hoje quando entrego para Ananindeua 3 infocentros públicos e uma escola pública e de qualidade no Satélite, tenho a convicção de que o sonho está intacto e agora cheio de realizações.
Sobre o que me move, o que move lutadoras e lutadores deste país, conto um pouco nesta conversa.
......

Primeiro eu sou socialista e eu aprendi primeiro com minha mãe. Quando ela nos levava, nos ensinamentos religiosos, cristãos, do espírito cristão da solidariedade humana...

Quando veio a faculdade estávamos na ditadura, foi no ano de 1976 e eu, logo depois disso, em 79, comecei a participar do movimento estudantil e comecei também a conhecer melhor a realidade do povo, como o povo vivia sofrido.

Então, o espírito da solidariedade, juntando com as necessidades do povo, me fizeram, eu também... Teve uma cena da minha vida que me marcou.

Dos sete filhos do meu pai, eu era muito pequena ainda, mas eu jamais esqueci. Eu era muito pequenininha...

Mas de todos os filhos do meu pai, a única pessoa que viu meu pai ser preso pela ditadura, homens de metralhadora na porta da minha casa e eu não entendendo nada o que era aquilo, eu era muito pequena, nem tinha compreensão do que era a ditadura militar, fui eu, que vi. Então, mas aquela cena marcou e depois o meu pai falava muito dos militares, e depois fui compreender, fui procurar saber. Então eu me transformei numa pessoa assim, que eu inclusive, eu não quis debutar, porque eu dizia assim pra minha mãe: “não, eu não vou debutar porque não tenho que dar satisfações para essa sociedade que está aí...”.

Aquela sociedade que eu, no meu entendimento, de uma jovem de 14 anos, imputava que era responsável pela prisão do meu pai, entendeu? Então não quero ir, não quis também festa nos 15 anos, aliás, na minha formatura, não quis festa também nos meus 15 anos.

Tive uma reunião, uma festinha bem íntima, enfim, isso foi uma coisa já que marcou pra eu ser uma jovem também diferenciada, que questionava, que procurava conhecer outras coisas e quando eu entrei na faculdade eu acho que juntou esse espírito com o conhecimento mais forte da realidade e eu decidi que ninguém pode ser feliz sozinho, que a gente precisava fazer alguma coisa pra transformar essa realidade, que não dá pra você dormir tranquilo no travesseiro e saber que você não fez absolutamente nada para transformar sua realidade.

Então eu decidi fazer alguma coisa.
Sabia que sozinha eu não faria a transformação, mas eu tinha que me juntar com outras pessoas, eu tinha que fazer a minha parte, eu tinha que fazer a minha parte. Vou fazer a minha parte naquilo que diz respeito a ajudar que essas pessoas saiam dessa situação e foi isso que eu fiz na minha vida.
Foi isso que me moveu, quer dizer, eu me envolvi muito, a minha vida foi sempre pautada pelo movimento social.
A gente ia no sábado, lá para o centro comercial (de Belém), lá na João Alfredo, a gente ia vender “Resistência”, (jornal) quando tinha qualquer ato, qualquer reunião pública, a gente ia pra lá vender Resistência, assinatura do jornal Resistência, que representava realmente a resistência da sociedade civil à ditadura militar, ao Governo da ditadura.
Então eu naquele momento realmente, eu fiz isso. Como eu participei do movimento na luta pelo direito de morar.
Também militando no centro acadêmico, fui a primeira presidente do centro acadêmico de arquitetura da Universidade Federal do Pará e sempre envolvida nos movimentos sociais, naquilo que significava a organização do povo. Na luta pela redemocratização do nosso País, na luta pelos direitos dos mais necessitados.
Então isso faz parte da minha história de vida, lutar pelos direitos do povo faz parte da minha história de vida, desde muito jovem mesmo.
Lutar pela democracia, porque eu considero que é o regime melhor que existe, ele pode ter todos os defeitos que se podem ter, mas ainda é o melhor regime que existe, a democracia. Então, isso me traz lembranças muito boas e ao mesmo tempo também de muita luta.

2 comentários:

Anônimo disse...

O discurso do Cezar Britto, ontem, foi contundente e um recado direto.

A verdade vos libertará!

Anônimo disse...

Muito bom, muito bom, como testemunho e história. Legal prá campanha.