Enquanto a sociedade se mobiliza pelas ruas da cidade pela redução do preço das passagens, solução para o caos no trânsito e os cães de Santa Cruz do Arari, uma pauta importante continua sem solução: a morte de crianças na Santa Casa de Misericórdia. Na edição de hoje do jornal Diário do Pará, representantes do Sindicato dos Médicos denunciam a superlotação do hospital e a falta de profissionais para o atendimento.
Esse não é um problema novo. Nos deparamos com ele em nosso governo e encontramos a solução mais prática: a construção de um novo hospital, com oito andares e mais 180 novos leitos, duplicando a capacidade de atendimento. Deixamos os recursos empenhados e a obra em andamento. Quase 3 anos depois, o prédio está pronto e os equipamentos instalados. E surge a pergunta: por quê Jatene não inaugura?
O motivo da enrolação, desta vez, é a vontade do governador de passar o novo hospital para a iniciativa privada. Como fez com os hospitais regionais, a gestão do novo equipamento será repassada a uma "instituição". O objetivo da privatização é o mesmo de sempre: doações$$$$ eleitorais.
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do Diário do Pará
Quando a demanda é bem maior que as possibilidades estruturais apresentadas, não há alternativa que não remediar. Tendo que enfrentar o excesso de pacientes que já alcança uma taxa de ocupação de 104%, de acordo com a própria direção da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, há momentos em que os profissionais se veem obrigados a atuar no limite.
De acordo com o diretor do Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa), João Gouveia, por vezes, a atuação de médicos e demais integrantes da equipe multiprofissional na Santa Casa é prejudicada pelo excesso de pacientes que são recebidos no local.
“Os médicos reclamam de falta de estrutura geral para trabalharem na Santa Casa. O Ministério da Saúde preconiza que a cada dez leitos de UTI [Unidade de Tratamento Intensiva] neonatal se tenha um profissional. Mas, por ter a característica de ‘porta aberta’, tem momentos em que tem 20, 30 crianças em um ambiente com capacidade para dez pessoas. Uma equipe que está preparada para atender 10, atende 20, 30”, adianta, ao se referir às queixas de médicos que trabalham no local ao sindicato. “Nessa situação [de superlotação], não tem respirador, material, medicamento para todo mundo. Os médicos dizem que é um inferno!”.
Segundo Gouveia, as situações enfrentadas pelos médicos que precisam trabalhar sem a estrutura ideal para atender ao excesso de pacientes na maternidade que serve de referência para todo o Estado, é prejudicial não apenas para eles, como também para as pessoas que precisam de atendimento. “Os médicos se sentem desgastados. Eles trabalham muito além do limite na Santa Casa, principalmente os médicos do atendimento intensivo e os obstetras que tratam os casos graves. O dia a dia deles é isso”, aponta. “Como a Santa Casa atende casos de alta complexidade, é mais natural uma criança evoluir a óbito, mas não da forma como está acontecendo. Há dez anos nós defendemos que haja a descentralização do atendimento na Santa Casa”.
DEMANDA ALTA
A demanda superior à estrutura observada no hospital também é apontada por uma funcionária da Santa Casa que prefere não se identificar. Segundo ela, não se consegue dar conta, com a estrutura atual, da grande quantidade de pacientes que se dirigem ao local.
“É um local que dá estrutura, mas não para atender à demanda que está se vivendo lá. A rede básica dos municípios não é estruturada, todos que não conseguem atendimento no município param na porta da Santa Casa, tudo que bate na porta entra e a estrutura vai se assoberbando a ponto de corrermos o risco de não conseguirmos atender à demanda”, conta. “Há momentos em que não há estrutura para atender o que chega. Às vezes vem uma mãe que já está infectada, que não fez o pré-natal no seu município e a gente já recebe como paciente de risco e absorve. Vivemos uma situação caótica. A gente tenta dar resolutividade imediata, priorizando os casos mais graves e comunicando quem é de direito”.
Avó relata a dor no adeus à netinha
Na entrada da maternidade no momento em que a equipe do DIÁRIO flagrou um carro funerário que recebia um pequeno caixão dentro do hospital, a dona de casa Mariana de Souza recordava do momento em que ela mesma teve que lidar com a morte da segunda neta, ocorrida no último sábado, 15 de junho. Acompanhante da filha no momento em que esteve internada na Santa Casa, Mariana afirma que a neta deixou de ser transferida pela falta de um profissional adequado para acompanhar a criança, que seguia internada na UTI. “Num final de semana, a enfermeira disse que a neném ia ser transferida e depois disseram que não tinha pediatra para acompanhar a minha netinha pro outro hospital. No final, ela ficou aqui mesmo”, recorda. “Estou indignada. A cesariana foi no dia quatro de junho e a minha netinha foi pra UTI, mas no dia oito ela começou a melhorar, já estava mamando e apareceu um sangramento na barriga da neném. Depois disso, ela piorou e de repente faleceu. Fico pensando que, se ela tivesse sido transferida, poderia ter sobrevivido”.
(Diário do Pará)
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