Por José Dirceu
Em uma avaliação periódica do sistema brasileiro cujo relatório (parte do Programa de Avaliação do Setor Financeiro - FSAP, na sigla em inglês) foi divulgado nesta terça (31), o Fundo Monetário Internacional (FMI) diz que o setor financeiro brasileiro "é estável, mas a expansão acelerada do crédito nos últimos anos pode gerar riscos" para a economia.
Um outro ponto em que os técnicos do Fundo criticam o Brasil é quando dizem que o governo deve repensar a atuação do BNDES que deu um "quase-estímulo fiscal" durante o momento mais difícil da crise mas que, no longo prazo, pode acabar sufocando o desenvolvimento do sistema financeiro. Apesar de reconhecer que o banco público é um "pilar" do desenvolvimento brasileiro, o relatório afirma que "o BNDES deve mudar na direção de apoiar o financiamento com base no mercado e o desenvolvimento do mercado de capitais".
De maneira geral o FMI aprova as políticas do nosso governo e avalia bem nossa economia. Não podia ser de outro modo, já que estaria brigando com a realidade e com os números. Mas, nessa questão BNDES, o Fundo manifesta um velho cacoete seu. Não tem nada a ver a atuação do BNDES e o desenvolvimento de um mercado de capitais no Brasil.
Os elevados spreads dos bancos privados no Brasil
A razão pela qual os bancos privados não emprestam mais está nos spreads elevados. O spread bancário é definido pelo Banco Central como sendo a diferença entre a taxa de empréstimo e a média ponderada das taxas de captação de certificados de deósitos bancários. Os spreads dos bancos brasileiros estão entre os mais altos do mundo e cerca de 1/3 deles são os lucros dos bancos, também recordistas mundiais.
Esses spreads são injustificáveis num ambiente de inflação controlada e de queda da Selic. Isso tudo sem falar nos juros internacionais, negativos nos Estados Unidos e Alemanha. No fim das contas, o que o FMI defende é a reserva de mercado dos bancos privados, num país em que já não há concorrência entre eles.
Ao manter essa posição, o Fundo rema contra a maré já que os países desenvolvidos mantém bancos de exportação e importação e dispoõe de outros instrumentos para financiar suas empresas e seu comércio externo, suas inversões e investimentos, principalmente em tecnologia. Isso sem falar nas ajudas de trilhões que deram e estão dando aos bancos e empresas desde a crise de 2008.
Um banco para apoiar nossas exportações
O que o Brasil precisa é de um banco para estimular nosso comércio externo, baseado no modelo do Eximbank dos EUA. E também do fortalecimento do BNDES e dos bancos públicos. Sem eles não teríamos sobrevivido à crise de 2008 e agora não teríamos como defender nossa indústria e economia e nem fazer política social ou apoiar nossa agricultura, a de negócios e a familiar.
Outra coisa é que isso não deve significar que o BNDES continue financiando empresas que podem e devem ir ao mercado bancário e de capitais, ou que tenha que rever seu papel no futuro.
Como o próprio FMI reconhece, o papel do BNDES tem sido fundamental na economia brasileira. Hoje mesmo deve apoiar cada vez mais a exportação de capitais, tecnologia e serviços, a pequena e média empresa, nossa logística e infraestrutura, a inovação e o desenvolvimento tecnológico, como prioridades.
Blog do Zé Dirceu
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