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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

FMI não tem razão ao criticar ação do BNDES

Por José Dirceu

Em uma avaliação periódica do sistema brasileiro cujo relatório (parte do Programa de Avaliação do Setor Financeiro - FSAP, na sigla em inglês) foi divulgado nesta terça (31), o Fundo Monetário Internacional (FMI) diz que o setor financeiro brasileiro "é estável, mas a expansão acelerada do crédito nos últimos anos pode gerar riscos" para a economia.

Um outro ponto em que os técnicos do Fundo criticam o Brasil é quando dizem que o governo deve repensar a atuação do BNDES que deu um "quase-estímulo fiscal" durante o momento mais difícil da crise mas que, no longo prazo, pode acabar sufocando o desenvolvimento do sistema financeiro. Apesar de reconhecer que o banco público é um "pilar" do desenvolvimento brasileiro, o relatório afirma que "o BNDES deve mudar na direção de apoiar o financiamento com base no mercado e o desenvolvimento do mercado de capitais".

De maneira geral o FMI aprova as políticas do nosso governo e avalia bem nossa economia. Não podia ser de outro modo, já que estaria brigando com a realidade e com os números. Mas, nessa questão BNDES, o Fundo manifesta um velho cacoete seu. Não tem nada a ver a atuação do BNDES e o desenvolvimento de um mercado de capitais no Brasil.

Os elevados spreads dos bancos privados no Brasil

A razão pela qual os bancos privados não emprestam mais está nos spreads elevados. O spread bancário é definido pelo Banco Central como sendo a diferença entre a taxa de empréstimo e a média ponderada das taxas de captação de certificados de deósitos bancários. Os spreads dos bancos brasileiros estão entre os mais altos do mundo e cerca de 1/3 deles são os lucros dos bancos, também recordistas mundiais.

Esses spreads são injustificáveis num ambiente de inflação controlada e de queda da Selic. Isso tudo sem falar nos juros internacionais, negativos nos Estados Unidos e Alemanha. No fim das contas, o que o FMI defende é a reserva de mercado dos bancos privados, num país em que já não há concorrência entre eles.

Ao manter essa posição, o Fundo rema contra a maré já que os países desenvolvidos mantém bancos de exportação e importação e dispoõe de outros instrumentos para financiar suas empresas e seu comércio externo, suas inversões e investimentos, principalmente em tecnologia. Isso sem falar nas ajudas de trilhões que deram e estão dando aos bancos e empresas desde a crise de 2008.

Um banco para apoiar nossas exportações

O que o Brasil precisa é de um banco para estimular nosso comércio externo, baseado no modelo do Eximbank dos EUA. E também do fortalecimento do BNDES e dos bancos públicos. Sem eles não teríamos sobrevivido à crise de 2008 e agora não teríamos como defender nossa indústria e economia e nem fazer política social ou apoiar nossa agricultura, a de negócios e a familiar.

Outra coisa é que isso não deve significar que o BNDES continue financiando empresas que podem e devem ir ao mercado bancário e de capitais, ou que tenha que rever seu papel no futuro.

Como o próprio FMI reconhece, o papel do BNDES tem sido fundamental na economia brasileira. Hoje mesmo deve apoiar cada vez mais a exportação de capitais, tecnologia e serviços, a pequena e média empresa, nossa logística e infraestrutura, a inovação e o desenvolvimento tecnológico, como prioridades.

Blog do Zé Dirceu

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