ÚLTIMO VÔO – Antonio Juraci Siqueira
(Para quem traz no peito a chama
do ideal da Cabanagem.)
Quatro séculos de lutas
de um povo valente e audaz
em busca de liberdade,
justiça, respeito e paz
que, apesar dos desenganos,
segue entre perdas e danos
mas não se curva, jamais!
Quantos pés pisaram sonhos
dos nativos deste chão?
Quantos fomos, quantos somos,
quantos ainda virão?
Quantos tombaram lutando,
quantos vivem pelejando,
quantos sobreviverão?
Quantos heróis traspassados
pelo punhal assassino!...
Fontelles, Irmãos Canuto,
João Batista, Quintino,
Chico Mendes, Guaymiaba,
Expedito, Ajuricaba...
Quantos bravos num destino!
Como externar a bravura
sem par dos nossos avós
sem reprimir a ternura
que habita dentro de nós?
Como lutar tanto, tanto,
sem deixar, jamais, o pranto
sufocar a nossa voz?
Como é que um povo altaneiro
que a própria história constrói
pode quedar-se ferido
sem distintivo de herói?
Ser a pedra, ser a pluma,
a lança e a flor que perfuma
as mãos de quem a destrói...
Mas enquanto a intolerância
tem tentáculos de polvo,
a resistência dos bravos
em busca de um mundo novo
guarda o poder do oceano
e vence o ódio tirano
com a força que vem do povo!
(Do livro: “Uirá-Pirá – A saga do peixe-pássaro”)
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