A cada dia, mais provas e indícios de envolvimento do líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), com a rede criminosa do contraventor Carlinhos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, colocam o senador goiano no centro dos escândalos nacionais. Agora, o próprio procurador-geral da República, Roberto Gurgel, diz que tem farta documentação sobre inquérito da Polícia Federal que expõe o relacionamento entre parlamentares e o bicheiro, indicando que, doravante, as investigações, paradas há dois anos na Procuradoria, terão finalmente o devido encaminhamento. Há um movimento de parlamentares cobrando celeridade da PGR na apuração das diferentes denúncias da imprensa que envolvem, sobretudo, o ex-líder do DEM.
Na semana passada, os líderes do PT na Câmara, Jilmar Tatto, e no Senado, Walter Pinheiro, juntamente com a líder do PSB no Senado, Lídice da Mata, protocolaram na Procuradoria Geral da República representação pedindo “investigação para averiguar se há indícios de conduta ilícita de membros do Congresso Nacional, que, em tese, poderiam configurar delito sujeito a investigação no âmbito da competência originária do Supremo Tribunal Federal”. A expectativa é de que o inquérito seja aberto no Supremo para rigorosa apuração das graves acusações dos últimos dias.
O próprio Gurgel admitiu, em entrevista semana passada, que detém farto material que liga Cachoeira a parlamentares. Ele afirmou que as gravações de conversas telefônicas, feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça, revelam contatos frequentes do bicheiro com Demóstenes, além de outros parlamentares. Na entrevista, Gurgel disse: "Eu não vi nada e é muita coisa. Vou examinar". Reportagem publicada pelo jornal O Globo na última sexta-feira revela que Gurgel recebeu, em 2009, documentação de outra investigação, precedente à atual operação Monte Carlo, que aponta a proximidade de Cachoeira com Demóstenes Torres e os deputados federais goianos.
Os novos dados sobre as ligações entre Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e outros políticos com foro privilegiado foram enviados à Procuradoria Geral da República há duas semanas. Caberá ao procurador Roberto Gurgel decidir se pede ao STF abertura de inquérito contra Demóstenes e outros parlamentares federais supostamente vinculados a Cachoeira.
Em nota, a PGR confirmou que recebeu os autos sobre o caso da Justiça Federal de Anápolis. Mas alegou que o processo ficou parado por uma "questão de estratégia". "Como titular da ação penal, cabe ao Ministério Publico Federal definir os rumos da investigação", diz a nota.
Em outra ação, o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) protocolou na última terça-feira um requerimento com pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para investigar o envolvimento do empresário com integrantes do Congresso. Segundo Protógenes Queiroz, 208 deputados assinaram o documento – 37 a mais do que o número necessário para abertura das investigações. Após a verificação dos apoiamentos, caberá ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), avaliar se o colegiado deve ser criado. Caso ele seja instalado, os integrantes da comissão terão 180 dias para concluírem as investigações.
As provas e indícios de envolvimento do senador do DEM são cada vez mais claras e consistentes, conforme tem mostrado a imprensa. O autodenominado arauto da moralidade, que um dia foi eleito por jornalistas que cobrem o Congresso como o parlamentar mais “combativo” contra a corrupção, aparece em interceptações feitas pela Polícia Federal pedindo a Cachoeira que pague uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$3 mil. Em outra gravação, segundo informações dos investigadores da PF, o senador fez "confidências" ao bicheiro Cachoeira sobre o resultado de reuniões reservadas que teve com autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Mas o site da revista Carta Capital divulgou que , mais do que isto, o senador seria um dos sócios dos negócios de Cachoeira. Citando inquérito da Polícia Federal, a revista afirma que Demóstenes receberia 30% do faturamento do esquema de jogos de azar de Cachoeira, o que resultaria num montante de R$ 50 milhões nos últimos seis anos(mais detalhes abaixo).
O relatório da PF revela ainda que, desde 2009, Demóstenes usava um rádio Nextel (tipo de telefone) habilitado nos Estados Unidos para manter conversas secretas com Cachoeira. Segundo a polícia, os contatos entre os dois eram "frequentes". A informação reapareceu nas investigações da Monte Carlo.
Cachoeira é acusado de subornar autoridades para explorar casas de jogos e, ao mesmo tempo, destruir os negócios dos concorrentes. Há três anos, num inquérito aberto em Anápolis, a Polícia Federal já tinha detectado supostos vínculos de Demóstenes e Cachoeira já foi condenado pela Justiça Federal no Rio de Janeiro a oito anos de prisão. O poderoso chefe do jogo está detido no presídio federal de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
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