Num movimento pessoal, não acompanhado nem mesmo pelo DEM do conservador de quatro costados senador Agripino Maia, Freire ingressa na tarde desta terça-feira 6, em Brasília, com representação na Procuradoria Geral da República por uma investigação formal contra o ex-presidente Lula. Ele quer que os promotores e todo o aparato sob a chefia de Roberto Gurgel tomem como base os disparos verbais do publicitário Marcos Valério feitos a ainda não se sabe exatamente quem, mas que foram replicados pela revista Veja, em dois textos de capa, para atalhar a carreira do ex-presidente num labirínto jurídico-policial que poderá ser aberto na forma de processo judicial.
Não pelo seu presente de linha auxiliar do PSDB, mas por seu passado de quadro do PCB, Freire dará hoje, sem dúvida, mais uma grande contribuição para sepultar, ainda uma vez, e da pior maneira, o velho partidão de ícones como Luis Carlos Prestes e Gregório Bezerra. É claro que haverá alguém para dizer que os comunistas, personificados em seu ex-candidato a presidente, atuaram mais uma vez contra os interesses populares.
Em 1992, num congresso realizado na Câmara Municipal de São Paulo, Freire aproveitou-se da fragilidade da legenda para comandar a sua dissolução e levar a maior parte de suas poucas bases para o ali criado PPS. No entanto, sempre que pode, exalta o passado de sua velha agremiação. No PCB, Freire nunca adquiriu a confiança de seus correligionários para chegar ao Comitê Central. Foi vereador em Recife, eleito pelo MDB, quando o Partidão estava com toda a sua direção no exílio. Na volta, com a anistia, comunistas como o histórico Gregório Bezerra atuaram para que Freire chegasse à Câmara dos Deputados, onde deveria, mesmo com a legenda na clandestinidade, atuar pelos interesses do grupo que lhe ofereceu apoio político em troca de lealdade. Como se vê hoje, quando toma a linha de frente no ataque a Lula – uma liderança surgida da mesma classe operária da qual o PCB se originou --, Freire aceitou o apoio, mas não o pagou com lealdade.
No melhor estilo da UDN dos anos 1950, cuja fachada de moralidade deu grande contribuição para o golpe militar de 1964, Freire tenta, com a ida à PGR, escrever o primeiro capítulo de um roteiro semelhante. Ele sabe que o seu PPS não tem nem filiados nem história suficientes para liderar marchas de famílias contra Lula, mas igualmente avalia que a aposta numa caçada jurídica de tipo kafkiana ao líder político mais popular da história do Brasil – sem provas concretas e baseada na palavra de um condenado pelo STF – irá render a ele e seu partido largos espaços na mídia.
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